sábado, 4 de abril de 2009

Parte 4: Antes que tudo comece outra vez


O som tocava alto no quarto trancado. A música era lenta e triste. O recinto era muito bonito, bem arrumado, o computador a um canto, e o closet com a porta entreaberta deixando a mostra as roupas montadas em pilhas separadas e organizadas.

O espelho na porta do closet refletia a garota deitada na cama de dossel, parecendo cama dessas de princesas de contos de fadas. Ela ouvia a música, refletindo cada parte dela... Ainda estava no começo da manhã. Logo o dia passaria, e o próximo também, o outro... e finalmente começaria tudo outra vez...

Um lágrima rolou por seu rosto meigo e infantil. Eve era doçura em pessoa, mas o que realmente escondia dentro de si estava guardado e lacrado a sete chaves, ou mais. Outra lágrima desceu, enquanto levantava-se da cama e limpava o rosto.

- Acorda para a vida, Evelyn! Está na hora de enfrentar seus medos... se eu for corajosa o suficiente...

...

O dia amanhecera maravilhoso. De sua cama, Marc olhou as horas. 9:30. Nossa! Nem acredito que minha mãe ainda não derrubou a porta! pensou ele, ainda deitado de bruços sobre os lençóis quentes e confortáveis. Esfregou os olhos e levantou-se. Estava animado. Fora dormir muito tarde no dia anterior. Estivera batendo papo na internet, com os amigos que fizera e que estavam distantes.

Abriu a porta e, nesse exato momento, a voz feminina que tanto gostava, mas que tanto adorava lhe reprimia em igual gritou lá de baixo.

- Marco Anthony, se você não descer já desse quarto eu vou aí em cima derrubar essa porta! Já tá tarde meu filho!

- Já levantei mãe! Não estressa!

- O que? Seu pai vai ficar sabendo disso viu!

Marc bufou lá me cima. Porque sua mãe tinha que ser assim? É só alguma horas, ! Quem é, em sã consciência que se acorda antes das 10:00 num domingo?

Mas o garoto aprendera a muito tempo que com os pais era diferente. Os grilhões e as correntes eram apertadas demais para ele falar alguma coisa... mas ele queria falar... queria falar muito... mas não podia.

- Marc Anthony, se você não parar de pensar em coisas para dizer para eles eu aí te afogar na água do vaso sanitário! - ironizou ele, fazendo uma voz fininha e deboche, na frente do espelho do banheiro.

...

Para Evelyn, a manhã transcorrera sem nenhum incidentes maiores. A não ser o vaso de porcelana que fazia tantos anos ocupava a estante da sala e se partira no chão quando ela limpava o móvel da poeira.

- Ai, ai, ai, Eve! Será que você consegue ser menos aluada um pouco?

- Desculpe mamãe. Foi sem querer. Estava tirando o pó desse estante. A senhora também nunca muda essa caco do lugar aí...

- Esse caco? Esse caco? - ela era uma senhora não muito velha, que ainda representava sua beleza, mas que parecia estar escondida sob a simplicidade e o descuido. - Então você está chamando o vaso de porcelana que ganhei de... de... presente de... noivado... de caco?

Eve ficou em silêncio. Esquecera-se completamente disso. O vaso de porcelana era uma representação de algo que nunca acontecera: o casamento da sua mãe. Porém, aquilo era algo de muito valor para ela, apesar da garota achar um bobeira guardar algo que não trazia nenhuma valor sentimental... a não ser dor e mágoa.

- Desculpe mãe! Deixa que eu arrumo isso... deixa tudo aí.

Eve retirou os 'cacos' quebrados do vaso das mãos de sua mãe, que já apresentava sinais de desmoronamento, com os olhos cheios de lágrimas. A garota não aguentou ver aquilo. Amava muito a sua mãe e não queria vê-la sofrer... mas tinha seus próprios conceitos... contudo, a mágoa dos outros era algo que poderia passar por cima dela.

Depois que arrumou tudo, e sua mãe já havia saído da sala, e se trancado no quarto, Eve foi correndo para o seu. Trancou a porta e desabou na parede do closet espelhado, deixando que as lágrimas rolassem soltas. Porque? Porque isso vai acontecer logo comigo? Porque eu não poderia ter um... pai... O amor me esqueceu.... assim como eu irei esquecê-lo...

Os pensamentos dela rodavam como em um turbilhão por sua cabeça. Porém, como uma chamada para a realidade, o celular dela vibrava e sibilava sobre a cama muito bem arrumada. Levantou-se e foi lá atender, secando o rosto com as costas das mãos.

O celular mostrava a última mensagem recebida:

'Última semana, Eve! Reunião geral no QG da Máfia XD! Sua participação é imprescindível! Ok? By: Luke'

A vida não é tão fácil assim... mas sempre temos a quem recorrer.

...

Marc recebia a mensagem no celular onde escutava música pelos fones de ouvido, sentado na mesa, acabando a refeição que sua mãe fizera naquela manhã. Refletiu as palavras que Luke lhe mandara. Deu uma risada. O amigo adorava brincar com as palavras, e sabia escrever como ninguém. Só ele mesmo para colocar passeio no shopping como 'reunião no QG da Máfia'. Mas vendo bem... é sempre onde nos encontramos, enquanto sua mãe aproximava-se dele.

- Retiro isso do ouvido enquanto está na mesa, meu filho. - disse ela, já retirando os fones. - Você não sabe que isso faz mal? Um dia você ainda vai ficar surdo viu.

- Ô mãe. Até estava baixo... não tem problema nenhum.

- Tem sim! Escute isso no seu quarto, aqui não. E ponto final. - terminou ela, olhando nos olhos dele com aquele jeito de 'é-sua-mãe-que-está-falando-moçinho'!

Na frente do garoto, seu irmão mais novo, um pirralho que oscilava em ser amável e em outra ser um completo 'purgante', debochou de Marc, sorrindo maldosamente.

- É... mãe... olha. Meus amigos, me enviaram uma mensagem agora, eles vão sair. Será que posso ir com eles?

A mãe virou-se para ele instantaneamente. Se tinha algo que ela não gostava era ver seu filho sair pela porta da frente, mesmo para ir à escola, que a enchia de preocupações, a maioria das vezes exageradas.

- Você não acha que já saiu demais não garoto?

- O que? Não! Não acho não mãe. É a última semana de férias. Logo estaremos estudando outra vez. É bom aproveitar não?

- Não, não é não. Você já foi à praia, na casa daquela sua amiga. Tá bom demais.

- Mãe, foi só por 2 dias. Eu pedi para ficar mais um, mas a senhora não quis. - protestou Marc, levantando-se abruptamente. - Eu mereço sair, não fiz nada de errado.

- Está fazendo agora, me enfrentando. Filho, você sabe que a mamãe só quer seu bem. É melhor você ficar em casa do que se meter em confusões aí com esses seus amigos... seu pai iria concordar comigo e...

- NÃO! - Marc gritara agora, chamando a atenção de sua mãe, que já virara para o fogão, onde preparava alguma coisa numa panela. - Você sempre diz isso! Sempre. Eu nunca posso fazer nada, eu nunca tenho direito de nada... droga! Eu quero ser livre ao menos uma vez po...

O palavrão ficou na metade do enunciado. Sua mãe percebera que ele falaria algo assim e se impulsionou para cima dele, com uma grande colher de pau. Ele percebeu que tivera um excesso em suas palavras, e se contraíra antes de terminar a palavra.

Correu para cima, enquanto sua mãe gritava que ele era um filho ingrato e que não fora essa a educação que deram a ele. Mas ele já não ouvia nada. Algumas lágrimas rolavam em seu rosto. Só queria ser livre! Só queria ser livre...

...


A mensagem fora respondida logo depois. Eve já sabia a resposta que sua mãe daria. Apesar dos 18 anos batendo em sua porta, era tratada como um princesa no alto de sua torre, protegida pelos dragões que estava lá fora, prontos para atacar.

Sentou na cama, afundando no edredom fofo. Analisou seu quarto, passando o olho por todo ele.

- É, Evelyn. Acho que você realmente está presa em sua torre.

Não havia como negar. Do closet profundamente arrumado e perfumado a cama de dossel finamente trabalhado, tudo ali era como uma bela e linda 'prisão', linda demais para que ele quisesse ir embora, conhecer o que estivesse lá fora. Olhou o computador com o monitor desligado ao canto.

- Mas nas torres das princesas não tinha PC! - forçando um sorriso, levantou e foi sentar em frente ao aparelho.

...

O quarto estava escuro. Marc não queria nenhuma luz acesa. A única vinha da tela do computador ligado em frente a cama. Estava sentado na poltrona, olhando para a tela, desfocado, absorto em pensamentos. Sabia que fora longe demais, nunca falara assim com sua mãe... sempre se refreara, contendo sua vontade de dizer que não queria aquilo, que não iria ser sempre o que eles queriam que ele fosse.

A Terra lhe chamou de volta com um pequeno bip que saia das caixas de som. Na tela do computador, um janela abrira e vibrara, com o pedido de atenção feito por alguém. Ao olhar bem para a tela viu quem era: Evelyn. Deu um sorriso e começou a digitar no teclado.

'Olá garota! Como está?'

'+/- ^^ levando... e vc? Deve estar mais do que ansioso para voltar as aulas ?'

'Nem me diga... mas...'

'Pensei que você estaria no shopping! Ñ recebeu a msg do Luke?'

'Recebi... mas minha mãe ñ deixou eu ir! A maior barra aqui em casa.' 'E porque vc está +/-? Não está animada com a chegada das aulas?'

'Estou Marc... mas é q... vc ñ entenderia!'

'Como assim ñ entenderia? Me explique então!'

...

Era demais para ela. Eve prendera a respiração na frente da tela. Seu coração agora batia ritmado e rápido. Seria agora o momento? Oh Deus, me dê uma luz! A luz veio com o pedido de atenção na janela aberta. A garota respirou fundo... colocou as mãos sobre o teclado, sem digitar, esperando...

...

'Não me diga que está apaixonada de novo? Vc sempre demora quando vai falar nisso!XD'

Marc estava sorrindo em seu quarto escuro e silencioso. Evelyn se tornara uma grande amigo no ano que se passara. Compartilhavam muita coisa, desde o gosto por estilos musicais até a filmes e outros assuntos que conversavam bastante. No segunda ano andavam abraçados, de mãos dadas, na maioria das vezes sorrindo de uma piada que alguém do grupo ou dos 'ataques histéricos' que Eve sempre dava de vez em quando e que animava a todos.

Ela era amável e alegre, uma grande amiga... amiga? Marc olhou a tela do computador, na janela, as últimas palavras escritas por ele: Não me diga que está apaixonada de novo? ... Apaixonada de novo... Não pode ser! Não... ele e ela... será?

Porém ele não esperou resposta, pois ela não chegaria naquele dia. Com um simples 'Tenho que ir. Bye! Até segunda.', Eve deixou o bate-papo. Marc ficou alguns minutos se entender. Olhou o relógio. Nem percebera que já estava anoitecendo. Apesar disso, já se sentia cansado, como se tivesse corrido o dia todo... uma corrida cansativa e com um fim incerto... um fim que estava longe e que ele próprio desejava estar longe.

Percorreu os olhos pelo quarto escuro. Fora só mais um dia! Logo a noite passaria, e a manhã acordaria para outro dia, passaria e a noite viria de novo, começando tudo outra vez. Precisava descansar, antes que tudo começasse outra vez... tudo começasse outra vez...

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Parte 3: ''Nossos sonhos ainda estão guardados''

O dia amanheceu ótimo. O sol estava radiante, o céu, oras, quase sem nuvens, azuzinho, azuzinho. Era um dia maravilhoso não era? Pode ser para qualquer pessoa na face deste planeta chamado Terra, mas... nem todos somos iguais... de jeito nenhum. E, sendo assim, nem todas as manhãs são iguais, nem todos os 'sóis' são tão radiantes... Mas...

...

O quarto do garoto estava meio bagunçado como sempre. Lucas não era conhecido pela organização em pessoa. Mas, mesmo assim, ainda era perceptivel o celular que apitava por debaixo das cobertas indicando que já passava da hora dele acordar.

Mas o garoto não estava nem um pouco afim de fazer executar... sua face ainda guardava as marcas de lágrimas da noite anterior, e seus olhos registravam o que tentara esquecer nesses últimos dias, mas que sua mente insistia em repassar cada minuto daquela conversa de semanas atrás...
É... meu namorado! Nós tivemos... tipo uma briguinha sabe... estou esperando ele ligar... Aquelas palavras ficaram gravadas como se fossem brasas em sua cabeça.

Mesmo assim ele levantou-se, pegando o celular e vendo que o despertador apitava a horas. Quando o colocou em off, a proteção de tela do aparelho revelou a imagem de uma grande turma sorridente em uma mesa em que o simbolo de uma sorveteria se mostrava presente.

- Acorda para a vida, Sr. Lucas, talvez ainda exista coisas importantes neste mundo... - disse para o quarto escuro.

...

Os carros passavam rápidos na rua adiante, mas a jovem de cabelos castanhos nem percebia. Seu sorvete estava quase intacto em cima da mesa, a não ser por já ter começado a derreter. Nicole olhava o movimento em volta com olhar de perdida, seus pensamentos voavam e ela devaneava bem longe dali.

Seus últimos dias tinham sido... digamos... pesados. Não sabia o que estava sentindo. Era um sentimento que mesclava tristeza com alegria, ansiedade com angústia... Estavam um pouco confusos, desde que se dera conta que perdera algo importante em sua vida, e que, brevemente, perderia muito mais.

- Cuidado! Senão vai ter que pagar por não usurfuir o laser da forma devida, senhorita Nicole.

Ela virou-se para quem lhe falava, pois conhecia aquela voz e muito bem. Seus olhos encontraram-se e ela agora sim 'voltava para seu corpo'. Era uma amigo que estava ali, um grande amigo.

- Está bem Luke, umas moedinhas não vai quebrar a Dow Jones*, eu tenho certeza. - Nikki disse sorrindo, percebendo que aquele era o primeiro que dava depois de muito tempo.

- Hum, que bom, vejo que no seu paraíso não tem lugar para crises!

- Quem dera.... quem dera...

Lucas sorrio para as últimas palavras, e encarou os olhos da amiga.
Ai ai! Esse olhar... está acontecendo alguma coisa. Ele se encaminhou para o balcão, onde um atendente anotou seu pedido de chocolate e castanha, e após pegar a taça cheia de sorvete voltou para a mesa onde Nicole estava sentada.

- Então, o que uma garota como você faz num pub como esse, tomando sorvete, em um dia onde poderia, tipo, estar na praia ou jogando The King no PS2? - disse ele, sorrindo, encarando a amiga.

Ela sorriu antes de responder.

- Seria mais fácil perguntar como estou né? Que tal tentar disfarçar de vez em quando?

- Se você não disfarça porque é que eu tenho que disfarçar? - Luke adorava aquela amizade. Sabia que a amiga não estava bem assim que a avistou sentada na sorveteria com o olhar perdido para a rua, no mesmo local onde sentaram-se meses atrás, numa noite memorável.

- Tá certo... não estou nada bem... se eu ficasse em casa.... acho que ia explodir! Ou explodia outra pessoa, o que seria mais legal.

- Nossa tá tão insuportável assim? - ele se serviu de uma grande colherada, olhando para a rua. - Então bem vinda ao clube!

Nicole digeriu aquelas palavras junto com o sorvete de limão que voltara a tomar.
O que ele queria dizer com aquilo? Luke, você não me engaba! Ela virou-se para ele, pronta a interrogá-lo, mas ele foi mais rápido.

- Sabe do que estou me lembrando? Foi exatamente aqui que estavamos no final do ano passado, quando terminaram as aulas da noite, e iriamos fazer a prova a, sei lá, alguns dias? Eu estava exatamente aqui. Você estava a direita de onde está.... e a Lee... no seu lugar...

Ele olhou para a amiga. Com certeza ela lembrava-se, e não era coincidência que fora até ali e sentara-se justamente ali. Nicole abaixou os olhos, e o amigo se lembrara de outra coisa. A despedida no final das férias na praia. Talvez fosse aquilo.

- Sabe Luke... não é apenas 'isso'. - ela disse, já com um olhar triste. - Eu sei que você sabe o que é, você sempre sabe. Mas não é só a Lee... é tudo. Parece que eu tô sentindo que não é só ela que eu vou perder. Eu sinto que um dia isso vai acabar. Que logo, logo, cada um segue seu rumo, e voa, em direção ao seu futuro... não teremos mais em quem nos apoiar, ou com quem conversar em pub's tomando sorvete....

- Calma Nikki. Não é bem assim. Eu sei como é deixar alguém para trás, como é se despedir, e como vai ser chato quando chegar em um momento em que todos vamos tomar nossos caminhos... - ele olhou nos olhos da amiga, e sabia que o que ela falava era a completa verdade. - Mas... nós temos que passar por isso. É inevitável. Não podemos lutar contra a correnteza, e você sabe disso. Mas podemos fazer 'disto' aqui o melhor possível. Podemos vivê-lo até os extremos, e ser muito feliz do lado da pessoa que amamos.... vamos fazer os últimos dias serem os primeiros do resto de nossas vidas!

Lucas deu um sorriso consolador, que foi devolvido pela garota. Ele estava certo, e ela sabia que sim. Voltou a provar de seu sorvete, sentindo que agora estava bem mais gostoso do que antes.

- Ah, mas você não me escapa. Eu sei que tá rolando alguma coisa. Diz logo.

- Digamos que a minha Xena já tenha uma Gabrielle em sua vida! - suspirou antes de falar,e encarou so olhs dela. Ela entedera o significado do trocadilho com o série que tanto gostavam.

- O que? A Janet.... ela é lésbica? - disse, surpresa.

- Não, não! - Luke sorriu, mas por dentro uma sensação de amargura crescendo. - Não uma 'namorada'! Mas um namorado... a Jane... 'minha' Jane já namora a um tempão, e ela nem olhava para mim, ela nem sabia que eu existia.

- Ô Luke, é assim mesmo, vem para cá. - ela fez o garoto trocar de cadeira, e ficar ao seu lado, para afagar seus cabelos, como mode de consolo. - Você sabe como é a vida né? Mas não preocupa... tem alguém esperando você em algum lugar. E também, você não deveria ter esperado tanto tempo para chegar nela né? Deveria ter ditoa ela a muito tempo o que sentia.

- Na verdade - ele fez uma pequena pausa. - ela nem sabe. Eu a encontrei na rua, e fomos conversando... até ia bem... mas aí ela disse isso... não pude falar mais nada... só dá uma enrolada...

- Que chato... - Nikki olhou para ele, lembrando-se de um passado um pouco distante, onde os dois faziam de um 'nós' bem próximo. - Não é para chorar mais, que eu sei que você deve ter chorado bastante. Mas não se preocupe. Você ainda vai arranjar alguém que lhe queira bem.

- Eu já ouvi isso antes... de você mesmo... em uma situação parecida com essa, mas bem mais, digamos, intima... - ele olhou para ela, que relembrou mais uma vez quando os dois tiveram uam história juntos. - Mas, o passado está lá atrás, e você como vai este coraçãozinho?

- Ah Lucas... - ela encostou a cabeça no ombro do amigo. - Sabe, você aí contando seus problemas, os 'últimos dias' se aproximando... mas acho que eu estou com uma vontade louca de me apaixonar! Só pode ser loucura... eu? Pura loucura!!!

Lucas ficou calado, sorrindo.

- O que foi? Está me achando louca mesmo né? - Nikki virou-se para ele.

- Posso fazer uma análise de você? - ele esperou a confirmação silenciosa. - Digamos que você não está louca. Que isso é a realidade. Depois que tudo que passou na sua vida, depois do que ocorreu na sua infância, com a sua família, você acha que terá o mesmo destino, que repetirá a mesma história... mas não! É apenas medo. Medo de ver que pode sentir uma coisa boa se apaixonando. Mas não se preocupe. Você não passará pelos mesmos problemas. Faremos tudo diferente. Nossos sonhos ainda estão guardados e vamos realiza-los, vamos seguir nosso destino de uma forma totalmente diferente! Seremos felizes.

- Posso confessar uma coisa?

- Claro.

- Você sempre tá certo, menino!!! - disse, em meio a risadas.

E a tarde transcorreu da melhor forma possível. Sem nem perceberem. Sem problemas... sem mágoas. Eram apenas dois grandes amigos sendo felizes.




quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Parte 2: Entre encontros e lágrimas...

Lucas andava pelas ruas daquela cidade movimentada. As férias estavam bem próximas de chegar ao final, mas ele estava muito ansioso por este momento. Primeiro porque voltaria ao local onde havia achado sua família, seus grandes amigos, que ia viver mais um ano. Segundo porque este era o último ano, e queria aproveitar esses 'últimos dias' o máximo possível. E depois, ainda tinha aquele probleminha que envolvia uma garota e um coração apaixonado...

Foi com esses pensamentos na cabeça que Luke viu alguém do outro lado da rua. Não pode ser! A imagem daquela garota veio logo em sua mente, e, como uma luz que acabava de ser acendida, ela brilhou para os olhos do jovem. Era ela! Com certeza era ela.
Janet estava olhando na vitrine um vestido de casamento, numa das diversas lojas de roupas que seguiam por toda a rua. Seus longos cabelos negros, olhos pequenos, magra e a bolsa de corda longa azul que quase não desgruda do corpo.

Luke ficou com o coração palpitando, e um antes inexistente calor passou a atacá-lo agora. Era ela! A garota por quem tinha olhado todo o ano que se passara, que admirara pelos cantos escondidos do corredor, sempre tentando se mostrar visivel, mas com um impossível medo de que alguma coisa desse errada.
O garoto pensou duas vezes. A voz de Nicole soou nos seus ouvidos. Você precisa falar com ela. Falar de verdade. Ela precisa te 'ver'. E tomou a decisão no impulso. Atravessou o rua.

- Olha quem eu encontro por aqui! Tudo bom? - disse ele, com um sorriso nervoso no rosto.

- Ah quem... Lucas! Tudo ótimo comigo. E você? - disse ela, dando seu característico sorriso, enigmático por si só.

- Ah, eu vou bem. É uma coincidência encontrar você, aqui no meio de uma rua movimentada nessa cidade que não para, né? - o garoto deu uma risada acompanhado por ela. Pelo menos estava se saindo bem no começo. Nunca tinha levado uma conversa demorada com a garota que tanto lhe inspirava desejo... e agora, parecia tudo propicio para a felicidade.

Continuaram a caminhada pela rua. Pessoas iam e vinham, entrando nas lojas e saindo com bolsas cheias de roupas e acessórios da moda, um consumismo geral e exacerbado. Mas eles nem ligavam para isso. Os dois, se não estivessem enganados, estavam ali por algumas coisas que enchiam suas cabeças, e precisavam esvasiá-las, literalmente.

- E aí, como tem sido as férias? - Luke recomeçou a falar.

- Ah estão bem... é bom uns dias de descanso né?

- Realmente. Aconteceram algumas coisas chatas comigo no final do ano... mas estou bem... uns dias de férias e diversão sempre ajudam. - O garoto lembrou-se do que se passou com ele a pouco tempo, mas tentou esquece-los no momento. A hora não era para isso.

- Coisas chatas sempre acontecem, mas no fim fica tudo bem... ficamos tristes e tudo mais, mas tudo volta ao lugar certo... bem, nem tudo, mas... - a frase morreu, enquanto ela pegava o celular e, aos olhos de Lucas, observava apenas as horas, mesmo que ela estivesse com um relógio de pulso no punho. - Mas... esses problemas tem alguma coisa com paixão? Você parece uma pessoa apaixonada!

- Eu! - Ele engasgou-se com a frase. Seria o momento certo? Seria agora que grande parte dos seus anseios estavam para se resolverem? Mas ele percebeu uma coisa diferente nela... seus olhos, eles não condiziam com seu sorriso maroto, pareciam... tristes. - Eu nada... sabe, aquele história.... 'ela nem sabe que eu existo' e essas coisas....

Ele estava tentando usar o tempo a seu favor. Não estava nem de perto preparado para aquilo... e não estaria de jeito nenhum para o que viria a seguir...

- Ah... é melhor correr atrás tá? Ou deixá-la para outro... - ela olhou outra vez no celular, e, desta vez, intrigou ao garoto que a acompanhava. - Será que ele não vai ligar? - susssurou ela, olhando para os dois lados da esquina onde tinham chegado.

- De... de quem está falando? Seu pai vem te pegar é?

- Não... - ela olhou bem nos olhos de Lucas. - É... meu namorado! Nós tivemos... tipo uma briguinha sabe... estou esperando ele ligar...

Mas ele não escutou as últimas palavras. Estava ainda deglutindo as primeiras... O que?!? Ele não podia acreditar no que ouvira. Não é possível! Ela não pode ter um namorado... não agora... não... Olhou para ela. Não podia acreditar que a garota por quem tanto havia desejado nos últimos meses estava lhe dizendo que já tinha uma pessoa por quem lhe era correspondido o amor... Não!

- Mas... aqui eu falando de mim. Mas e ela? Como que é isso minino? 'Ela não sabe que você existe'?

- É... sabe quando você ama uma pessoa e ela já tem outra? Mas você a ama tanto que não consegue acreditar que não é você que está com ela? Que não é você que está quando ela precisa de você? E que você fica triste quando não pode, e não consegue cumprir o que por tanto tempo queria? Sabe quando seu coração se desespera e se despedaça pensando na pessoa... e descobre que ela nem pensa em você? É mais ou menos assim...

As palavras lhe escaparam da boca. Ele continuava a fixar os olhos dela, que ficaram cada vez mais expressivo. Não sabia dizer se ela entendera ou não. Mas algo passou pela fisionomia dela que era estranho até o momento, mas tão enigmático que não poderia distinguir se ela estava ciente que ela 'dela' que ele falava.

- Ah Luke... hum... que chato... mas... ah preciso ir! Um táxi vazio. Tchau! Até a volta...

E correu para pegar o carro vazio, antes que outro passasse a frente.

Lucas, conhecido pelos intimos como Luke, ficou olhando o táxi amarelo percorrer a rua devagar e virar a esquina. Estava sem palavras. E, incrivelmente, sem pensamentos. Tudo aconteceu num instante... não pensara em nenhum momento nisso... É! Que belos últimos dias... acho que realmente é um 'probleminha' com uma garota e um coração apaixonado...

E voltou para o outro lado, deixando uma lágrima escapar dos olhos e enxugando o rosto ligeiro... seria a primeira... de muitas.



sábado, 31 de janeiro de 2009

Parte 1: Entre despedidas e sorrisos...

Ela entrou com tudo na casa. Depois de abrir violentamente o cadeado e batido, além do portão, a porta que dava acesso a sala, a garota subiu correndo as escadas, e se trancou no quarto.

Estava sozinha em casa, por isso não ouviu nenhuma represália de ninguém. E mesmo que tivesse escutado. Não estava nem aí. Queria que o mundo se explodisse a sua volta e ela não estaria nem aí.

As lágrimas já desciam sem ela perceber. Seu mundo desmoronava. E ela só queria chegar ao seu ‘refúgio’ o quanto antes.

...

O grande pátio da casa se enchia de risadas, enquanto um grande prato de brigadeiro se esvaziava. Os quatro amigos riam há muito tempo. A câmera ligada exibia as fotos que recentemente tinham tirado.

Sem preocupações. Sem tristezas... ou pelo menos era o que pretendiam amostrar.


- Pronto, pronto. Parem com isso. E apague essa foto Tony! – falou, esganiçada, Lee.


- Não! Tirou por que quis. Vai ser a lembrança das férias. Estelle Destes-Suhos!!!


E caíram mais uma vez na risada. Luke também ria, se jogando em cima de Lee para que a garota não ‘roubar’ a câmera da mão do amigo. Apenas Nikki não estava participando. Ou melhor, ela tentava enrolar, forçando um sorriso e exagerando em algumas risadas. Algo se passava na cabeça da garota. Ela sabia que fora um dos melhores momentos da sua vida, aquelas adoradas férias. Mas depois daquilo, nada seria como antes.... ela sabia que sim....


- Senhorita Nicole, você tá muito calada. Você não é assim! – disse Luke, já sabendo o que se passava só em olhar para a melhor amiga.


- Estou pensando no futuro... e no que ele me reserva. – Ela olhou para Lee e depois para o amigo de uma forma que ele entendeu logo. – Mas vamos logo antes que ela apague a foto.


E correram atrás dos outros dois. Era 1 e meia da madrugada. A noite era só uma criança para eles. E eles queriam aproveitar aquilo o máximo possível.

...

Por quê? Por que motivo estava acontecendo aquilo? Porque tinham que se separar assim... Foi só um ano, só ‘faltava’ um ano. Porque aquilo tinha que terminar antes do esperado?


Nicole enroscou-se na cama, arrastando os lençóis. Estava péssima. As lágrimas que insistiu em prender durante tanto tempo agora molhavam as cobertas. As memórias iam e viam na sua cabeça. Estavam no fundo da sala de aula e riam da garota novata imitar um cantor de Rap. Mas não sabia porque estava tendo aquela reação. Já experimentara aquele momento, e não reagira assim...


Como ela representava muita coisa na sua vida...

...

O caminho era curto. Estavam todos silenciosos. Riam por poucos minutos, mas logo perdiam a graça e voltavam a caminhar calados.


Nikki estava séria. Ela ria nos momentos certos, mas depois assumia sua rígida posição serena, que os amigos conheciam muito bem. Mas hoje estava diferente... Luke percebeu isso logo de cara.


Nicole caminhava ao lado de Lee, e esta ao de Tony. Luke ia ao lado de Nikki. Não sabia o que realmente se passava na cabeça da amiga, mas tinha alguma noção.


Chegaram ao ponto... o ponto da separação. O carro de Estelle já a esperava na esquina. O táxi que levaria os outros três estava na esquina oposto. Os ângulos representavam muita coisa. Mas naquele momento, eles percebiam.


- É pessoal, acho que chegou a hora. – anunciou Lee, olhando para os outros com um meio sorriso.

Tony foi o primeiro a abraçá-la. Sua eterna graça deu lugar a um abraço amigo e rápido. Luke chegou perto, e abraçou a amiga, fazendo um carinhoso cafuné nela.


- Vê se não some viu, doidinha. Vamos sentir muitas saudades!


- Claro que não! Eu também sentirei saudades de vocês. E também não é para sempre... é só um ano.


Chegou a vez de Nicole. Seus olhos miraram os de Estelle. Já estavam cheios de lágrimas. Seus pensamentos voaram em um ano, como um filme que se desenrolava rápido em sua cabeça. Desde o primeiro dia de aula, da garota novata, a única de all-star preto, até a onde que a derrubara recentemente.


O abraço entre ela foi demorado. Não queriam se soltar... não deveriam se soltar. Estelle representava tanto para a vida de Nikki... foram tantos momentos, tantas alegrias... foi um mundo novo que era conhecera. Um mundo onde uma amizade poderia surgir repentina e se tornar muito forte em pouco tempo.


Mas ela não chorou. Ela não derramou uma lágrima. Não iria desmoronar ali. Soltou a amiga.


- Juízo viu, Nicole. Eu vou embora, mas não é para aprontar todas não tá? Toma conta dela Luke! Até pessoal. Amo vocês! – E entrou no carro, que após alguns segundos, deu uma volta na esquina e saiu.


Os outros já estavam no táxi, esperando Nicole. Ela entrou e eles também tomaram seu rumo, um rumo oposto. Fosse no sentido físico, ou figurado... era exatamente isso que estava acontecendo. Estavam tomando rumos de vida diferentes, opostas, separadas...


Luke olhou para a amiga, que mesmo com as lágrimas prontas para cair, apenas deu um sorriso e virou-se para a janela. Havia chegado a hora... a hora que tanto pensara estar longe.

...

O desespero da garota foi se amenizando. Mil e uma coisas passavam em sua cabeça, que agora doía um pouco. All-star preto... sala de aula... escola... férias... areia... água... diversão... um carro numa esquina... lágrimas... Os olhos dela foram fechando vagarosamente até ela entrar em um sono profundo, recheado de sonhos dos últimos acontecimentos.


É... amanhã seria uma novo dia. Para todos, e especialmente para ela.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Prólogo: Últimos Dias

'Não queremos nem pensar que esse é o último ano. Que daqui a alguns meses diremos adeus a algumas pessoas... que tentaremos manter contato com outras... e realmente fingiremos que continuamos juntos. Mas a verdade é que vamos ter que nos separar de um jeito ou de outro. É um processo com começo, meio e final. Um destino que precisamos seguir e não podemos fugir. Sabemos que temos que cumpri-lo, mesmo que lágrimas rolem, e nos encha de tristeza deixar. Construimos famílias aqui. Laços tão forte quanto qualquer correnteza. Mas é preciso crescer, é preciso andar com nossas própria pernas e procurar nosso lugar no mundo. Nunca esqueceremos uns dos outros. Temos fé de que podemos nos reencontrar e continuar de onde iremos parar aqui. Esses são os últimos dias, mas, para uma a ver um começo, precisa existir um fim... Não vejamos como uma despedida. Será apenas o começo do resto da vida. Não são realmente os últimos.... mas viveremos como se fossem.'

'Espero vocês no futuro... e viverei para encontrá-los sorridentes neste dia.'